sexta-feira, 3 de junho de 2011

110 anos de José Lins do Rego!

Há exatamente 110 anos, nascia no Engenho Corredor, zona rural de Pilar, José Lins do Rego.

Mas você sabe quem foi José Lins do Rego?

Conheça agora um pouco sobre a vida desse pilarense ilustre!
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José Lins do Rêgo Cavalcanti nasceu no Engenho Corredor, município de Pilar, em 03 de junho de 1901. Filho de João do Rego Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti, fez as primeiras letras no Colégio de Itabaiana, no Instituto N. S. do Carmo e no Colégio Diocesano Pio X de João Pessoa. Depois estudou no Colégio Carneiro Leão e Osvaldo Cruz, em Recife. Desde esse tempo revelaram-se seus pendores literários. É de 1916, por exemplo, o primeiro contato com O Ateneu, de Raul Pompéia, Em 1918, aos dezessete anos, portanto, José Lins travou conhecimento com Machado de Assis, através do Dom Casmurro . Desde a infância, já trazia consigo outras raízes, do sangue e da terra, que vinham de seus pais, passando de geração em geração por outros homens e mulheres sempre ligados ao mundo rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos negros rebanhos humanos que a escravidão foi formando.

Juventude e início da carreira literária

Após passar sua infância no interior e ver de perto os engenhos de açúcar perderem espaço para às usinas, provocando muitas transformações sociais e econômicas, foi para João Pessoa
, onde fez o curso secundário e depois, para Recife , onde matriculou-se, em 1920, na faculdade de Direito.
Nesse período, além de colaborar periodicamente com o Jornal do Recife, fez amizade com Gilberto Freire , que o influenciou e, em 1922, fundou o semanário Dom Casmurro.
Formou-se em 1923. Durante o curso, ampliou seus contatos com o meio literário pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, Osório Borba, Luís Delgado, Aníbal Fernandes, e outros. Gilberto Freyre, voltando em 1923 de uma longa temporada de estudos universitários nos Estados Unidos, marcou uma nova fase de influências no espírito de José Lins, através das idéias novas sobre a formação social brasileira.
Ingressou no Ministério Público como promotor em Manhuaçu, em 1925, onde entretanto não se demorou. Casado em 1924 com d. Filomena (Naná) Masa Lins do Rego, transferiu-se em 1926 para a capital de Alagoas , onde passou a exercer as funções de fiscal de bancos, até 1930, e fiscal de consumo, de 1931 a 1935. Em Maceió , tornou-se colaborador do Jornal de Alagoas e passou a fazer parte do grupo de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda , Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aloísio Branco, Carlos Paurílio e outros. Ali publicou o seu primeiro livro, Menino de Engenho (1932), chave de uma obra que se revelou de importância fundamental na história do moderno romance brasileiro. Além das opiniões elogiosas da crítica, sobretudo de João Ribeiro, o livro mereceu o Prêmio da Fundação Graça Aranha. Em 1933, publicou Doidinho , o segundo livro do "Ciclo da Cana-de-Açúcar". Em 1934, conhece o editor José Olympio, que publica Bangüê, ainda escrito em Maceió. A partir daí, os seus romances passam a ser publicado nessa mesma Editora.
Em 1935, mudou-se para o Rio de Janeiro onde passou exercer a função de fiscal de imposto de consumo. Nesse ano, publica Moleque Ricardo, penúltima parte do ciclo da cana-de-açúcar.
No ambiente carioca, José Lins do Rego passou novamente a fazer parte do jornalismo, colaborando com “O Globo”, “Diários Associados” e o “Jornal de Esportes”. A admiração pelo desempenho de Leônidas na Copa do Mundo de Futebol, fez fã do Flamengo, clube carioca do Diamante Negro, que mais tarde vem a se tornar Diretor do Clube de Regatas do Flamengo. Em 1939, publica Riacho Doce, cuja ação se passa, em parte, na Suécia.
Nesse mesmo período, é Diretor do Clube de Regatas do Flamengo, revelando sua faceta esportiva de sua personalidade, sofrendo e vivendo as paixões do futebol, o seu esporte preferido, quando diz na frase “Sou Flamengo até morrer”.
Encerra em 1936, a parte do ciclo da cana-de-açúcar, publicando o romance Usina. Neste mesmo ano, publica Histórias da Velha Totonha, único livro de literatura infantil. Em 1937, publica Pureza, livro isolado da obra cíclica. Ano seguinte, 1938, publicava Pedra Bonita que terá uma espécie de continuação temática em Cangaceiros, levando a tona o fanatismo religioso no Nordeste.
Em 1940, traduz “A vida de Eleonora Dusé”, de E. A Reinardt para a Editora José Olympio. Em 1941, retorna à ficção com a sua nona obra, Água-Mãe. Nele, Zé Lins não fala do Nordeste e sim do Cabo Frio, onde interpreta a vida calma e mansa dos seus personagens e traz a temática do futebol para a ficção de Zé Lins. Este livro recebeu o Prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira, e foi escrito em prosa.
Em colaboração escreve ainda “Brandão, entre o Mar e o Amor” (1942) de parceria com Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amadeu e Aníbal Machado, por encomenda de Martins Editor (SP) e O melhor da crônica brasileira (com Raquel de Queiroz, Armando Nogueira e Sérgio Porto - 1980).
José Lins do Rego publicou a crônica Gordos e Magros em 1942, A Casa e o Homem (1954), Presença do Nordeste na Literatura Brasileira (1957); Gregos e Troianos (1957), O Vulcão e a Fonte (1958 – edição póstuma), Dias Idos e Vividos (Antologia).
Depois de ter declarado, no prefácio de Usina, em 1936, que havia encerrado o ciclo da cana-de-açúcar, José Lins do Rego retornou a seu motivo central em 1943. Premiado pelas circunstâncias históricas: o Estado Novo, as ditaduras fascistas e totalitárias do mundo inteiro e a II Guerra Mundial, escreveu uma indiscutível obra-prima, Fogo Morto, síntese de todo o ciclo, considerado pela crítica como sua obra mais importante, onde se inspira no Capitão Vitorino, comprando-o como D. Quixote sertanejo dos nossos dias.
Ainda em 1943, o romancista faz conferências sobre Pedro Américo, publicando pela LECEB. Lins tem intensa participação na vida esportiva, como membro da diretoria do Flamengo e Secretário-Geral, eleito, da CBD (Confederação Brasileira de Desportos).
José Lins do Rego publica em 1945, Poesia e Vida, crônica, pela Editora Universal (RJ). Faz-se membro do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Ainda nesse ano inicia sua colaboração no Jornal dos Sports, com a coluna Esporte é Vida. Também fará crônica regularmente para O Globo e O Jornal, do Rio de Janeiro, e a revista O Cruzeiro. Em 1946 publica pela LECEB, Conferências no Prata (“Tendências do romance brasileiro”, “Machado de Assis” e “Raul Pompéia”). Saem na Argentina traduções de Menino de Engenho e Banguê. É eleito membro do CND (Conselho Nacional dos Desportos), do Ministério da Educação.
Quatro anos depois, em 1947, publica Eurídice, primeiro romance tendo como cenário o Rio de Janeiro e falará novamente de futebol. Obtém com esse romance o Prêmio Fábio Prado (SP). Saem na Argentina traduções de Pedra Bonita e Fogo Morto. Nessa época, ele escreve no Rio de Janeiro, seu autorretrato:

“Tenho 46 anos, moreno, cabelos pretos, com meia dúzia de fios de cabelos brancos, 1,74m, casado, com três filhas e 1 genro, 86 kg bem pesados, muita saúde e muito medo de morrer. Não gosto de trabalhar, não fumo, não durmo com muito sono e já escrevi 11 romances. Se chove, tenho saudades do sol; se faz calor, tenho saudades da chuva. Vou ao futebol e sofro como um pobre diabo. Jogo tênis pessimamente, e daria tudo para ver o meu clube campeão de tudo. Sou homem de paixões violentas. Temo os poderes de Deus, e fui devoto de Nossa Senhora da Conceição.
E em fim, literato de cabeça aos pés, amigo dos meus amigos, e capaz de tudo se me pisarem os calos. Perco então a cabeça e fico ridículo. Não sou mal pagador. Se tenho, pago; mas se não tenho, não pago, e não perco o sono por isso. Afinal de contas sou um homem como os outros. E queira que assim continue”.

Em sua primeira viagem à Europa, o romancista visita a França, a convite do governo daquele país. O romance “Pureza” é traduzido na Inglaterra. A perda para os uruguaios na Copa do Mundo de Futebol motiva escrever crônica intitulada O Caráter do Brasileiro, inserida em seu livro póstumo “O Vulcão e a Fonte”.
Em 1951, repartida a viagem conhece a Dinamarca, Portugal e Suécia, integrando-se na Delegação Esportiva Brasileira, e ainda como desportista vai ao Peru.
Ainda no ano de 1951, Zé Lins visita pela última vez sua terra natal, Pilar, para receber homenagens que fazia seus amigos e conterrâneos inaugurando o busto dele, na Praça João Pessoa. O monumento foi descerrado por seu grande amigo José Américo de Almeida, sob aplausos; em seguida foi almoçar no Engenho Corredor, onde nascera.
Em 1952, publica Homens Seres e Coisas, crônicas. Em 1953, publicou Cangaceiros, seu décimo segundo e último romance. O livro recebeu o Prêmio Carmem Dolores, como a melhor obra de criação literária naquele ano. Ainda nesse ano é o presidente da delegação brasileira que participa no Peru do Campeonato Sul-Americano de Futebol, vencido pelo Paraguai. Interrompe a publicação das crônicas da rubrica Esporte e Vida no Jornal dos Sports.
Em 1954 publica A Casa e o Homem, crônicas. Nesse mesmo ano, viaja à Europa em companhia da esposa Dona Naná, em visita à filha mais nova, Cristina, passando pela Espanha, Finlândia e Inglaterra, onde visita o Memorial Shakespeare.
De volta à Europa, em 1955, visita à Grécia, cidade a que retornaria no ano seguinte, demorando-se por alguns meses. Publica Roteiro de Israel, pelo Centro Cultural Brasil-Israel (RJ) e Gregos e Troianos, pela Bloch Editores, Rio de Janeiro, em 1957. Em 1955, retorna à Grécia, Em 15 de setembro desse ano, foi eleito em primeiro escrutínio, obtendo 22 votos contra 12 concedidos a Valdemar Bernardinelli e dois a Ernani Lopes, para a Academia Brasileira de Letras como sucessor do Ministro Ataulfo de Paiva, na cadeira nº 25.
Em 1956, o escritor viaja novamente à Grécia e, de passagem, passa por Paris, onde reviu os amigos Gilberto Freyre e Cícero Dias.
Lins publica em 1956 seu livro de memórias, Meus Verdes Anos. Nesse mesmo ano, sai em Paris a tradução dos Cangaceiros.
Em 1957, voltando ao Brasil e é recebido oficialmente pelo acadêmico Austregésilo de Ataíde na Academia Brasileira de Letras.
Ainda em 1956, José Lins do Rego, publica pela José Olympio, seu único livro de memórias, Meus Verdes Anos, onde relata momentos alegres e tristes de sua infância no Engenho Corredor e em Pilar, narrando detalhes de sua terra com seus parentes e amigos que o cercava.
Em 15 de dezembro ainda desse ano toma posse na Academia, sendo recebido por Austregésilo de Atayde.
Em janeiro de 1957, volta a escrever no Jornal dos Sports. Em 20 de julho é publicada a última crônica da rubrica Esporte e Vida. Nesse ano são editados: Gregos e Troianos, crônicas, por Bloch Editores; Presença do Nordeste na Literatura Brasileira, ensaio, pelo Ministério da Educação e Cultura, e Discursos de posse e recepção na Academia Brasileira de Letras (junto com Austregésilo de Athayde), pela José Olympio.
No seu último ano de vida, 1957, cercado de amigos, já com a saúde abalada, Zé Lins dizia temer a morte. Internado por três meses no Hospital dos Servidores do Estado, vítima de cirrose hepática, síndrome hepato-renal e acidose urêmica, proveniente de esquistossomose, morre no dia 12 de setembro de 1957, às 01: 15 horas da madrugada, o pilarense José Lins do Rego. O corpo do escritor foi velado em câmara ardente na Academia Brasileira de Letras, coberto com a bandeira do Flamengo; às 16 h foi sepultado no mausoléu dos imortais no Cemitério São João Batista, no Bairro do Botafogo, Rio de Janeiro.

Perfil da obra e trajetória literária

O mundo rural do Nordeste, com as fazendsa , as senzalas e os engenhos, serviu de inspiração para a obra do autor, que publicou seu primeiro livro - Menino de engenho - em 1932.
A criação literária de José Lins do Rego(aka: Zé do Rego), como ele próprio afirma, foi baseada, fundamentalmente, nas estórias de trancoso, contadas pela velha Totônia e pela leitura de Os doze pares da França, de Carlos Magno, que ele leu aos doze anos, ainda no internato de Itabaiana, tendo recebido, também, influências de Vítor Hugo, Proust, Hardy, Stendhal e os que ele chamava de "os grandes russos da minha vida: Tolstoi, Thecov e Dostoievski". Entre os nacionais, ele cita: Raul Pompéia, Machado de Assis, Gilberto Freyre e Olívio Montenegro.
A obra de Zé Lins caracteriza-se, particularmente, pelo extraordinário poder de descrição. Reproduz no texto a linguagem do eito, da bagaceira, do nordestino, tornando-o no mais legítimo representante da literatura regional nordestina.

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José Lins está morto, mas as suas obras e a sua memória estão vivas em cada brasileiro, paraibano e principalmente, em cada pilarense.

Viva, viva o filho mais ilustre de Pilar, o escritor José Lins do Rego!

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